outubro 04, 2011

Um ano, dois meses, oito dias - José L. Moura.


     

     Hoje a cidade de Goiânia amanheceu lúgubre, o céu vestindo um negro suave, para me lembrar do que aconteceu há um ano, dois meses, oito dias, me atingindo com um susto inicial, passando de assombro para dor, raiva, frustração, apatia, tristeza, solidão e por fim, aceitação. A morte do meu sogro foi instantânea, não esperava por isso - quer dizer, quem espera? Um fato hoje me lembrou disso mais fervorosamente do que todos os dias. Nunca gostei tanto de alguém tão rápido como gostei dele. Ele tinha servido ao Exército, foi um ótimo soldado, um ótimo pai, um ótimo sogro e um homem com incrível senso de graça, mesmo sem querer. É um herói para o meu esposo, para a minha vida. 
     Lembro-me do dia em que o conheci, gentil e hospitaleiro. Compreendeu tão bem o seu filho, aceitava as suas decisões sem tomar partido. Logo após muito insistir, pudemos nos mudar para sua casa. Fico pensando que se nunca tivesse aceitado o meu primeiro emprego, nunca precisaria de treinamento, nunca precisaria ir tão longe, tão "pra Goiânia" - talvez ninguém tivesse se atrevido a invadir uma casa com mais pessoas, então. Mas se fosse uma questão de vingança, ninguém os pararia. E não adiantaria, de todo jeito - por mais triste que seja, sei que aconteceu porque tinha de acontecer.
    Sei que ele era um homem que já tinha tido seus pensamentos sobre o outro mundo, porque havia conversado isso com ele. Será que seria assim? Quanto mais a pessoa se dá conta da própria espiritualidade e da dualidade das coisas, mais próxima ela ficaria da Morte? Ou é porque os bons sempre vão primeiro? Mas blá, isso não quero pensar. Gosto de pensar nele, naquele jeito meio sem jeito, ou em como seus olhos brilhavam ao contar seus planos. E me digam, de que adianta planos a longo prazo, se nem os de curto prazo são garantidos? Gostava do seu jeito impaciente, que era tão apaziguador. Gostava de saber que podia contar com ele, porque ele sempre estava ali - me acompanhou quando precisei, me ajudou quando precisei. É como se tivesse perdido um pai ganho recentemente, um amigo que foi embora tão depressa quanto chegou na minha vida.
     Você não me disse adeus, só disse pra me cuidar. O que quis dizer? Que você virá um dia me buscar? Nossa conversa perdeu o sentido que tinha naquele dia, porque quando penso nisso, não sei se acredito no Outro Mundo. Mas se eu não acreditar, que garantias eu tenho de que vou poder vê-lo novamente? Por que isso me dói tão fascinadamente?
     Você não precisa de mais ninguém a chorar por você. Mas não deixo de me comover, não de tristeza - mas de felicidade porque enfim eu posso falar o quanto amei você. 

Muito obrigada por tudo, meu querido sogro, meu tão bom amigo.

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